O amor da Bélgica pela bicicleta

Largada do Tour de Flandres na bela Bruges, Bélgica
Bem, na sexta-feira eu disse que meu próximo post seria sobre o processo de compra e venda de apartamentos em Estocolmo, mas, queridos leitores, vou ter que adiar este tema! E por um motivo muito importante – pelo menos para a saúde do meu casamento! Se eu não postar sobre o RONDE VAN VLAANDEREN, a corrida de bicicleta mais importante da Bélgica, meu marido, belga e fã fervoroso de bikes, vai pedir o divórcio!

Acreditem vocês ou não: o lance das bikes está para a Bélgica assim como o futebol está para o Brasil! Lá, antes mesmo de o bebê começar a engatinhar, ganha dos pais uma bicicletinha. Faça chuva, faça sol. Pode até nevar. Você sempre vai ver pessoas pedalando na Bélgica! As cidades – e falo especialmente de Bruges – são cortadas por ciclovias. Há sinais de tráfego, mão e contramão para os ciclistas, que são de todas as idades! A polícia pára (claro que já fui parada, pedalando na calçada) e multa quem não estiver respeitando as regras (fingi que não entendia o que ele falava, nem em holandês, nem em inglês... eu disse em português “Brasil, Brasil”, ele pensou que eu era turista e me liberou! UFA!!!).

E ontem, domingo (03/4/11), aconteceu um dos eventos mais importantes para a Bélgica e para todas as pessoas que são ligadas em bikes: o Tour de Flandres, ou, na língua original da região, o RONDE VAN VLAANDEREN. Segundo os jornais belgas, a corrida foi assistida por mais de 40 milhões de espectadores! E curiosamente, enquanto o evento estampa as primeiras páginas dos jornais belgas, as referências em português que encontrei na net foram pouquíssimas!

É tão interessante ver este evento na Bélgica!! Pra eles é um dia pra lá de especial! Para comparar, o clima é como em jogo do Brasil pela Copa do Mundo! Em Bruges, o ponto inicial da corrida, todo mundo foi para o Grote Markt – praça central – para ver a largada! E em todo o país amigos se encontraram para almoços, cervejinhas (belgas, claro!) ou cafés para assistir ao evento pela TV. Os bares e cafés instalam telões para a transmissão ao vivo. Os belgas que moram nos arredores do circuito foram até a beira da pista para acenar para os ciclistas, gritar seus nomes e incentivá-los nesta dura batalha! E daqui de Estocolmo, o meu belga favorito acordou feliz e não desgrudou os olhos da tela do computador, por onde acompanhou, pela internet, cada pedalada dos esportistas.


Belguinhas com a bandeira de Flandres




Programa típico em dias de Tour de Flandres: levar no trailer a família e os amigos para a beira da pista


Prefeitura de uma cidade belga especialmente decorada para o evento


Câmeras a postos: transmissão ao vivo pela TV, internet e rádio


Todo mundo vai às ruas

Lá na Bélgica, a bicicleta é tanto esporte quanto meio de transporte! Os acessórios para as magrelas são inúmeros, um mais curioso que o outro! Os pais levam de bike seus filhinhos à escola; os maiorzinhos pedalam suas próprias bikes, mas não sozinhos: sob a supervisão se um funcionário da escola, elas pedalam em grupos, que passam na casa das crianças. E todos vestem coletes fosforescentes! Senhorinhas levam suas compras nas bolsas de sua bikes... Senhorzinhos fazem parte de clubes de ciclistas (tipo motoclubes, saca?) que aos finais-de-semana saem para suas pedaladas rotineiras, todos juntos, em uniformes... Um barato!



Mãe belga levando os filhos à escola nas charmosas "BAKFIETS"

Crianças indo à escola de bike, com seus coletes fosforescentes


Cinto de segurança também na bicicleta!

Mãe brasileira equilibrando seus filhos na bicicleta... Sem cadeirinhas, sem cinto de segurança, sem coletes chamativos!
Enquanto isso, no Brasil parece haver duas categorias de ciclistas: a primeira, de pessoas ligadas ao esporte, que gastam grandes quantidades de dinheiro na compra de equipamentos, roupas, ferramentas... e a segunda, de pessoas que necessitam de um meio de transporte mas que não podem contar com o transporte público e não têm condições de comprar um carro ou uma moto. Aí então vemos pais levando seus 3 ou 4 filhos a escola, sem a mínima segurança, todos pendurados na garupa, no cano ou no guidão, desviando dos carros, que acreditam ser os únicos que têm o direito de usar a rua...



E fica minha crítica... Vou citar o exemplo da minha cidade natal, Conchas, mas a ilustração cabe a muitas outras cidades... Das duas categorias de ciclistas citadas acima, a segunda é, senão a única, a mais comum na cidade de Conchas. A avenida que liga a área residencial à fábrica que atualmente mais emprega na cidade é trajeto de caminhões, carros, pedestres e muitas, muitas, muitas, bicicletas. Como em quase todos os lugares, a prioridade é para os automóveis, e os cilcistas e pedestres sofrem para encontrar um espaço. Acontece que um dos lados da avenida é inteiramente margeado pelo seminário de padres. Muitos e muitos metros! Agora pense se recuássemos poucos metros nesta propriedade, e investíssemos numa linda ciclovia, margeada por flores! Ah, que sonho! Fica minha sugestão às autoridades conchenses!

Ah, e sobre o Tour de Flandres, só para constar, o vencedor foi o belga Nick Nuyens, que desbancou os favoritos Fabian Cancellara, suíço vencedor do tour 2010, e seu conterrâneo Tom Boonen, que venceu o tour em 2005 e 2006.


O vencedor do Tour de Flandres 2011: Nick Nuyens

O próximo post será sobre os apartamentos em Estocolmo, prometo! 4 dias e pronto, você passa de sem-teto para proprietário! Não perca! Até breve!



6 comentários:

  1. Que lindo esta cultura sobre duas rodas! Eu confesso que pra mim, como uma legítima brasileira, fica difícil entender como conseguem trocar o conforto de um carro bem quentinho por uma magrela!!
    Mas acho muito lindo e compreendo, ou pelo menos tento..rs...

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  2. E eu, Carol, confesso que também não foi fácil me adaptar a uma realidade onde carros não são prioridade, como sempre foi pra gente. Mesmo que esteja chovendo, as pessoas colocam capas de chuva e saem com suas bikes! É estranho, muito estranho! Mas foi assim que eles foram criados. Pra eles, é normal! Pra nós, continua sendo esquisito! :)

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  3. É admirável! e um pouco invejável (inveja construtiva!! rsrs). Aqui no Brasil o clima é tão propício a bicicletas!! Gostaria q fosse um meio de transporte por opção, não por falta dela... como vc falou no texto! Tenho vergonha de dizer, mas ainda não consegui fazer tudo oque eu quero de bicicleta! Ainda mais onde eu moro q tem 60 mil habitantes! Mas ainda assim, nessa cidadezica, as bicicletas são quase q invisíveis em muitas vezes! Vc tem que dar uma de entrão pros carros verem q ali tem uma bicicleta passando e q tem seu lugar no transito! E nem comento das ciclovias....até porque não tenho nem oque comentar! É algo totalmente ignorado por aqui...
    Muita legal essa cultura Pri! Bicicleta é bom demais!! É simples! Liberdade!!

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  4. áh...só pra corrigir! Acho q a vergonha é que apoio, incentivo, acho lindo...mas nem eu consigo usar sempre...mas acho compreensível tb! Pela nossa cultura mesmo! Do automóvel e da velocidade... Estou tentando! rsrs! Devagar!!... beijos!!

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  5. Glau, concordo com tudo. Seria ótimo se pudéssemos contar com uma certa estrutura pública: ciclovias, sinalização, estacionamentos... Mas vamos, aos poucos, desenhando o país que queremos! Cidades pequenas são ainda mais fáceis de serem modificadas! Vamos tentar? Beijão e obrigada pelo post! ;)

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  6. Sim!! Aos poucos...q é o que acredito também!! :)

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