A calma que me dá...

Às vezes a vida não é fácil, todo mundo sabe... E neste momento da minha vida ando um pouco agitada com algumas coisas... obrigações a cumprir, inseguranças, confrontos e mais um monte de outras coisas que seriam estressantes por si só, mas que se agravam quando enfrentadas num país que não é o seu... Tudo fica um pouco mais difícil! Mudanças, mil... Mudanças físicas... Passei por várias casas, mas há quanto tempo não moro num “lar” que seja meu... Viajando, ficando aqui provisoriamente, morando ali por três meses, e mais três meses lá...

Vô Nelson
...e foi no meio deste leva-e-traz de malas que encontrei um CD mais que especial! Nele, 10 faixas de pura música brasileira... Chorinho e bossa nova das melhores... Mas mais que isso! Este é um CD só meu, ou melhor, só da minha família, e que não se pode ouvir usando internet, youtube, spotify ou baixar no emule! É o CD em que meu querido avô Nelson Anibal toca um lindo violão enquanto seus amigos “Pernambuco”, Celso e Cláudio solam um bandolim gostoso, batem pandeiro ou tocam cavaquinho. Foi gravado em fita cassete num gravador do qual me lembro muito bem... Acho que ainda está lá na casa da vó Gilda... Era vermelho, grande! Chique... meu tio João o trouxe dos EUA nos anos 80! Ai de quem mexesse nele!!! Só com autorização do vô Nelson!! E a minha irmã e eu ficávamos lá, em frente ao rádio, a observar suas cores e curvas. O vô Nelson vinha e nos colocava o fone de ouvido - dos grandes - pra que pudéssemos ouvir melhor a música... Ele dizia: "Tá ouvindo uma coisinha bem fininha, assim, 'tim tim tim'? Esse é o cavaquinho!". Lembro-me bem de ouvir "Samba Italiano", de Adoniran Barbosa. Ele queria porque queria fazer uma gravação nossa: as netas cantando em italiano (Piove, piove, fa tempo que piove qua, Gigi...) e ele tocando violão. Mas tínhamos tanta, tanta, tanta, tanta vergonha que nunca gravamos... Crianças... Se arrependimento matasse...

E essa é apenas uma das lembranças que o CD me traz... Infância, tranqüilidade, lar... É a trilha sonora que escolho (ou que me escolhe) para arrumar MEU novo lar. Para tirar as roupas das malas, os livros e os porta-retratos das caixas, com fotos de algumas das pessoas que amo, e que precisam me sorrir da parede, para eu não me esquecer, principalmente nesses momentos de incerteza em que o coração fica mais amolecido, que há coisas mais importantes na vida (meus amigos, meus discos, meus livros... tal qual em “Casa no Campo”)...

E a valsa que toca (“eu sonhei que tu estavas tão linda, numa festa de raro esplendor...”), solada com tanta destreza pelo tal do Pernambuco acalma meu coração e me faz sentir bem, mesmo olhando pela janela e vendo paisagens e passagens tão diferentes e às vezes assustadoras. Transfiro-me mentalmente para as reuniões familiares de antigamente, principalmente na casa dos meus queridos Maia, Xan e Suzana, quando eu devia ter uns 9 ou 10 anos de idade, e começava a me dar conta do que é música... Engraçado... é como se essas canções tivessem o ritmo do meu batimento cardíaco. Porque me soam tão naturais...é tão rítmico... bate lá dentro!

Aí, no meio das caixas e das malas, encontro o violão! Ah, o violão! É sempre bom ter um instrumento por perto (“como é bom poder tocar um instrumento”, diz Caetano – né, Naldo?). Tiro o pó, sopro, afino-o. Encontro, lá no fundo da minha memória, algumas notas e até arrisco tocar algumas canções. Aqui, só pra mim. Então, sozinha, sentada no meio da bagunça do chão da sala, entre porta-retratos, música do vô Nelson, um pedaço do bolo que fiz - receita da vó Gilda - CDs de MPB, a biografia do Freud e um violão na mão, fecho os olhos e concentro-me mais no pulsar do meu coração do que no mundo lá fora. E quando os abro novamente, calma e rodeada por tudo o que para mim simboliza Paz, passo a ter CERTEZA de que tudo vai dar certo!


13 comentários:

  1. Martha Mansur06 maio, 2011

    Querida amiga! Mais um dos seus lindos posts escritos com a alma!!! Como gosto! E como me identifico em alguns lindos pedacinhos da sua história embalada em muito amor e saudades...

    Nossa família será sempre nossa raiz, nosso porto-seguro, nosso colo quente nas horas incertas que as vezes aparecem no nosso caminho... e o que seria a vida sem essas memórias tao reais, quase tocáveis!?

    Agora vc tem seu cantinho e o seu violão, e aos poucos, no seu jeitinho e na sua velocidade irá compor a sua canção de paz, de certezas e vontade em vencer sempre!!! To pertinho viu?! Torcendo e desejando dias de muitas alegrias!!! E se quiser ajuda p algumas "estrofes"...conte comigo!!!

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  2. Ah, Martha... tô com lágrima nos olhos! Que bonito! Obrigada, minha querida! Tenho certeza de que escreveremos muitas lindas canções juntas! Já estamos escrevendo algumas linhas! Um beijão!

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  3. Pri, estou emocionada, algumas sensações não podem ser descritas exatamente na intensidade em que se sente, se estivéssemos frente a frente, bastava um simples olhar para perceber o qto me tocou com suas belas palavras e lembranças, que aliás, tb fazem parte da minha história. Penso que somos privilegiadas por ter vivido momentos tão importantes, simples e maravilhosos como estes.
    te amo!
    Fiquei com mais saudade ainda!!!!

    beijao da prima!

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  4. Mainha querida! Concordo com você! Somos privilegiadas mesmo! E ah... como sei desse olhar que bastaria para decifrar seus sentimentos... e vice-versa... e os da Carol também... e da Gê... pq a gente se conhece profundamente. E isso me dá forças! Obrigada por todos os momentos lindos! E, ó, não tem uma vez que pegue o violão e não toque "Esquadros", que você me ensinou! A música é até referência aqui no blog!

    Um beijão, te amo!

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  5. Pripri, linda!!!! Esse texto é tão "você" quem não se emocionou em ler suas palavras tão lindas???? Basta te conhecer um pouco pra se emocionar com tudo que eu li!!!! TUdo vai dar certo sim amiga, espere e confie! Um beijo grande em seu coração! Saudades, Li

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  6. Pri, que texto lindo! Dá pra sentir tudo junto com você. E olha, casa é onde o nosso coração se sente feliz, elas podem ser temporárias ou eternas! Cada uma com a sua graça, o seu tempo, as suas lembranças. Aproveite cada lugar pelo qual vc passar e leve-os com você, dentro do coração!
    Beijos,

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  7. Sim, amadinhas, o olhar ainda nos traduz. Graças a Deus! Perante tanta superficialidade e maldade no mundo, cá estamos nós, falando de família, de amor, de princípios passados em atitudes - não em discursos cansativos. Violão, música, bolo, casa de vó, fotos antigas, família reunida. Que bom que pudemos viver isso! Celebremos o passado, mas não de maneira nostálgica, como se nunca mais voltasse. E sim, olhando para o que queremos passar para os nossos filhos!!!! Depende de nós...

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  8. Minha mais que amada irmã, confesso que "fugi" um pouco deste post. Eu o vi mas
    achei que não fosse conseguir lê-lo.
    Enfim, hoje sentei e me rendi a um texto que só pela foto, sabia que eu iria me
    derreter toda.
    Viajei em cada palavra sua, em cada sentimento desta estória que tb vi e vivi
    (sorte minha)!
    Minha linda, esses momentos são eternos e que bom que eles existiram para dar
    mais sentindo neste nosso caminhar!
    Sou muito grata por Deus ter nos colocado na mesma família e podermos dividir
    lembraças como estas!
    Te amo!

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  9. Priscila esse seu post, como todos os outros são carregados de uma emoção que toca o coração de todos nós profundamente. Emoções universais, pois quase nós todos tivemos avós, primos, ouvimos músicas que nos marcaram e nos sentamos no meio de uma sala com caixas cheias de "pedaços de nós", seja para chegar ou para partir. O que é diferente e que acho lindo é a forma como vc consegue traduzir isso em palavras e que soam como se fossem nossas, saidas diretamente dos nossos corações. Parabéns, meu amor.

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  10. Tô me sentindo o Bolinha invadindo o clube da luluzinha...rsrsrsrs

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  11. Pri, poucas pessoas escrevem assim, com a alma. Com o sentimento. Palavras que fazem brotar lágrimas em vários olhinhos (eu mesma testemunhei sua mãe e a Cá aos prantos depois de lerem este seu post!). Ainda bem que a gente tem estas memórias sensoriais que nos fazem companhia em vários momentos da vida e nos dão força pra continuarmos vivendo e gerando mais e mais memórias para nós, nossos filhos, netos...Beijinho da tia Lu!

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  12. Silvana Jacó16 maio, 2011

    Pri!
    Eu que não sou da família, me encontro agora, em lágrimas, lendo seu post (que está lindo, com tanta alma como os anteriores)...
    Me vieram as lembranças de criança, que não são as mesmas que as suas, mas igualmente emocionantes... e que bom que essas emoções nos tocam, né; já pensou que vida vazia sem elas?

    Um beijão!

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  13. Pri, me emocionei demais! Deu vontade de te dar um abraço! Todos nós passamos por esses momentos né.. e dói, claro, mas são esses que fazem dos momentos felizes tão especiais, certo? Contrastes necessários da vida... E você foi buscar nessas caixas com "pedaços de nós" como alguem belamente disse, forças e razões para sorrir novamente. Que privilégio ter essa base, certo? Deus para entender um pouco como vc se tornou essa pessoa. Agora é verão ai e pelos ultimos posts você está vivendo um desses momentos de pura felicidade:-)Que você armazene felicidade para durar até o proximo verão, minha flor:-) Saudadess de você!! É um post antigo, só pude ler agora.. e pensar que eu estava ai o mundo velho quando vc o escreveu.. So vi agora, do contrario, creio que teria voado para ai, só para te dar um abraço bem forte!! Meu coração ficou pequenino!! Bom, isso me fez escrever, mesmo tão depois.. Força sempre, Pri!! Amo o blog!! beijosss e saudadess dessa pessoa sensivel que você é!! Carise

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