Tem dias que eu odeio morar na
Suécia. Como hoje, quando acordei
gripada, com o corpo pesado e a voz fanha. Pelo menos quando olhei pela janela
vi um céu azul lindo, e o sol brilhando, apesar de ser apenas 6:50 da manhã.
Hoje é dia 21/9/12, e oficialmente, como aprendi na escola, o dia em que se inicia
a primavera no hemisfério sul e o outono no hemisfério norte,
por causa da inclinação da Terra, que atinge um ângulo especial por volta do
dia 21/9. Mas aqui ninguém acredita nisso, e acha que o outono já começou há
muito tempo, no meio de agosto, e que o meio do verão cai no dia 21/6, quando
eles comemoram o feriado do Midsommar (que, traduzido, significa “meio do verão”). Como eles podem ser tão bem estudados e não saberem essas
coisas básicas?
Mas quando olhei no termômetro, que sensação…
4,7 graus, e o inverno nem começou… pra mim, isso é quase zero. Penso mil vezes
se devo ou não ir ao trabalho, mas não estou a fim de ter um furo no meu orçamento*.
Decido ir, com roupas bem quentinhas… e sei que vou ser única na rua a usar uma
blusa de lã, protetores de orelha e ainda com gorro por cima, casaco de lã e
cachecol… porque já descobri que para os suecos o verão se resume à presença da
luz solar, e o inverno, à falta dela. E enquanto se tem luz solar, os casacos
pesados, os gorros e luvas são artigos proibidos, e não importa quão baixo o
termômetro marque. Gorros, luvas e casacos quentes são somente para o período
de escuridão, o inverno. Mas eu sou planta tropical, e não tenho os genes
preparados para esse tipo de clima. Meu genótipo é veranil, embora eu insista
num fenótipo mais invernal – obrigação de quem escolhe morar perto do pólo
norte! E saio na rua com todo o meu equipamento de inverno… e sou a única a me
vestir assim. Você já sonhou que chegou a uma festa e descobriu que estava
pelado? A maioria das pessoas tem esse tipo de sonho, em que percebe estar em
total discordância com o local visitado... pois é assim que me senti. Mas a
sensação maior não é a de “que vergonha, sou a única a me vestir assim?”. Não!
É mais uma coisa do tipo: “puta que pariu, se eu estou usando todos os meus
equipamentos de inverno agora, que é o primeiro dia de outono, o que será de
mim quando o inverno chegar de verdade?”. E o lance é que vou de bicicleta para
o trabalho, e o vento é muito frio, meu nariz escorre… Chego ao escritório e
entro no elevador vazio, que dá um soquinho quando começa a se movimentar. E
por um segundo eu peço a deus que ele quebre e me prenda por umas quatro horas
lá dentro, assim eu posso deitar no chão e descansar – eu até tenho um livro
bacana na bolsa! Mas pra minha tristeza o elevador passa por boa manutenção - como
tudo na Suécia, aliás - e me leva com segurança ao sexto andar. Não tem jeito.
8 da manhã e já estou lá, com a cara colada no computador, uma caixa de lenços
ao meu lado, tremendo dentro da blusa de lã mais grossa que tenho (aquela que
no Brasil eu só usava quando ia pra uma festa ao ar livre e sabia que ia ficar
no sereno até de madrugada!) enquanto meus colegas passeiam pela minha frente
vestindo simples camisas de algodão e saias sem meia-calça. Como eles
conseguem???
*Segundo a
legislação sueca, o primeiro dia de falta do trabalho por motivo de doença é
descontado do salário.