Turbilhões em nossas vidas...


De acordo com minhas pesquisas informais, a maioria dos brasileiros que conheci na Austrália decidiram sair do Brasil porque a situação não estava lá aquelas maravilhas no nosso país tropical... emprego ruim, fim de relacionamento, morte de um ente querido... enfim, era como se a Austrália representasse uma virada, um lugar para enterrar o passado e, quem sabe, começar um novo futuro.


E comigo não foi diferente... eu estava passando por um dos piores momentos da minha vida... tinha saído da faculdade e deixado de ter a segurança de um mundo que era todo perfeito... meu namoro delicioso, meus amigos por todos os lados, as aulas de psicanálise, as conversa de bar de todas as noites... tudo aquilo tinha ficado num outro lugar, mas não num lugar acessível... tudo isso, de um dia para outro, tornou-se passado... e do passado, a gente só tem a lembrança. Nada mais.... No dia da minha formatura, o meu mundo teve que ser implodido... Eu voltei a morar com meus pais na minha cidadezinha, namorado e amigos espalhados pelo mundo e tão distantes de mim... comecei a trabalhar e parecia que não era bem aquilo... 


Morar com meus pais não era ruim! Eu gosto muito deles e sempre tive muita liberdade perto deles... esse, definitivamente, não era o problema! Era tudo ao redor, todo o entorno daquilo é que era negativo... O rumo que minha vida estava tomando não me deixava nem um pouco feliz!


O tempo foi passando e foi ficando mais difícil... porque as coisas foram ficando piores... talvez porque fui mais e mais me afastando dos meus objetivos... É que tudo se tornou uma grande confusão, e eu tentava me convencer de que aquela rotina era o que "deveria" ser, que a minha vida tinha mudado e que eu apenas tinha que, passivamente, aceitar essas novidades tão chatas...


Mas não era fácil!! Então era assim que tinha que ser? Então é isso que é "ser adulto, formado, com uma profissão?" Gente, aquilo era muito chato! Chato demais... e por não ter objetivos, ou por estar num caminho tão distante do que deveria ser o MEU caminho, eu fui ficando triste, triste, triiiiiiiiiiiiiste... Todos os dias eu pensava que seria melhor se a minha vida se acabasse... pois nada era feliz... e eu teria que viver mais quantos anos naquela mesmice? 


Eu acordava e pensava: "ai, tenho que ficar acordada por 15 horas até poder dormir de novo?"... sim... sintomas depressivos... mas a gente não se liga neles quando está no meio de tudo isso...





E as pessoas deviam me achar uma boba... porque apenas o que me dava alegria era pensar no meu passado... porque o presente e o futuro não faziam sentido algum pra mim... Pelo menos eu tinha aquele passado bonito, e poderia ao menos ter o prazer das lembranças dele...


Eu tentava me relacionar com pessoas, fazer novas amizades ou encontrar um carinha legal pra sair, mas tudo me parecia chato... e eu bebia muito álcool aos fins-de-semana... fumava depois do trabalho, nem sei pra que, mas acho que pra ter algo pra fazer... eu realmente não estava  vivendo uma vida saudável...


Mas eu sempre escrevi... Sempre tive a mania de ter um caderno no criado-mudo pra registrar meus pensamentos... e então eu escrevi algumas linhas e passei pro meu primo, que tem um talento fenomenal para música. Ele musicou minha poesiazinha, e acabou saindo uma música pra lá de bonita!


Se chama TURBILHÃO. A gente até patenteou, porque, quem sabe a música vira um hit? rsrsrs...


Muita gente que a ouve, pensa que estou falando de amor, de uma paixão arrasadora e tals... tudo bem, pois o legal de músicas, letras e poesias é que cada um tem sua própria interpretação... mas não é nada disso... É que eu sentia que eu tinha entrado num furacão, que tudo estava desorganizado na minha vida... eu via as pessoas e as alegrias passarem perto de mim, e num instante, elas iam parar bem longe... como num turbilhão, que faz tudo girar...


Eu tentava arrumar minha vida (minhas gavetas), mas tudo continuava bagunçado... E minha cara, de tanto chorar, já nem era mais a mesma. As pessoas diziam: "vai passar!", mas, porra! Por que não passa, então???? Por que demora tanto??? 


Minha vida tinha mudado tanto... como se meu mundo tivesse rachado ao meio! De repente, aquela vida que eu dominava, que era tranquila, "por onde eu andava em linha reta, sem nem pensar", já não mais existia... E refletindo sobre tudo isso, assim saiu:




TURBILHÃO


Seria um turbilhão que está passando?
E se tem que passar, por que não passa então?
Veio como um raio viajando
Sob os meus pés, rachando em dois o chão
por onde eu costumava ir
andando em linha reta
sem nem pensar...
De repente a água do rio se perdeu a caminho do mar
E no meio de um furacão fui parar

Vem, entra, fica, mora
desarruma minha casa,
bagunça todas as gavetas

Vem, entra, fica, mora
desarruma minha cara,
bagunça a minha cabeça







Copyright

Isso foi o que me mandou pra Austrália...


(continua...)
































Caronas... Ilha Solteira...

 Estava agora passeando pelo google maps quando resolvi dar uma olhada em Ilha Solteira, a cidade que visitei por 7 anos seguidos no Festival InterUnesp de MPB. O festival era (e ainda deve ser) uma delícia! Muitas músicas ótimas feitas pelos alunos dos diversos campi da Unesp. Muita MPB, estudantes-amigos-artistas interessadas em liberdade e em arte. Uma vez eu e dois amigos mandamos uma música de autoria de um deles... eu ia acompanhar no piano... mas infelizmente a música não passou... :( Enfim, Ilha Solteira me encantou de um jeito que prendeu meu coração por um longo tempo... 




A cidade é uma graça. Foi planejada para servir de abrigo aos trabalhadores da Usina Hidrelétrica, mas depois da obra feita, havia no local tanto recurso físico e intelectual no ramo da engenharia, que resolveu-se instalar lá a faculdade de engenharia da Unesp. Anos vão, anos vem, criou-se o festival de música, que é lindo!


                                                 "Prainha" à beira da represa Paraná 


Conheci muita gente querida por lá! Intercâmbio total entre as Unesps! Durante o dia a gente ia pra prainha, no chamado "Woodstock", e de noite o festival rolava no Teatro, bem em frente ao nosso acampamento, que se dava nas salas de aula ou nos gramados da universidade. A gente tomava banho no vestiário da Unesp, e invariavelmente a eletricidade caía. No primeiro dia a gente se assusta, mas depois tira-se de letra como tomar banho gelado, no escuro, ouvindo gritos de outras 8 meninas na mesma situação... rsrsrs...


Mas comecei a falar de tudo isso porque lembrei de uma carona especial que peguei lá. Eu já peguei e dei muitas caronas na minha vida, claro... não poderia ser uma viajante quase profissional se não tivesse feito isso... tive muita sorte com todas elas. E muitas caronas me deram mais do que transporte, como essa de Ilha Solteira, por exemplo. 


                            Pleno "Woodstock", muito calor!!! Nada melhor que uma "mangueirada"

Não me lembro em que ano foi, e também não me lembro ao certo quem estava comigo... mas o fato é que pra ir da Unesp até a prainha, à beira do rio Paraná, a gente tinha que pegar um ônibus circular, que demorava um tempãaaaao para chegar e estava sempre lotado... Então eu e minhas amigas, e outros grupos de estudantes também, acabávamos por ficar na beira da calçada com o polegar estendido, à busca de carona. E eis que um carro pára. 


Era um homem de seus 50 anos, ex-funcionário da represa. Ele nos contou várias coisas interessantes sobre a cidade - a população, as ruas planejadas, as casas do setor 1, 2 e 3, ou seja lá o que for, construídas para trabalhadores com respectivos níveis de instrução... não me lembro mais... e antes de nos deixar na prainha, ele nos levou para um passeio na ponte que passa sobre o rio, e que liga o estado de São Paulo ao de Mato Grosso do Sul. Foi muito bonito!


Mas o que eu gosto mesmo, e o que me marca, é o fato de encontrar essas pessoas de alma boa no meu caminho! De vez em quando fecho os meus olhos e faço uma oração, sem religião, para essas pessoas... que elas continuem aparecendo na minha vida e que eu possa retribuir essas boas ações a outras pessoas, assim como me pediu um outro cara que me deu carona no trajeto Assis-Bauru! 


Essa carona também foi mais que uma carona, e conto numa próxima oportunidade.



Palco do Festival, que rolava durante a noite no Teatro Municipal

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